quinta-feira, 21 de junho de 2007

Encanto

Seus pés descalços passeavam pelo grande salão de mármore branco, o tecido do longo e alvo vestido esvoaçava lentamente a seus calcanhares. Os movimentos eram suaves, leves, como se ela estivesse imersa em água: parecia que não possuia peso. Os cabelos, cor de madeira, escorregavam ondulantes pelas costas; às vezes caía-lhe uma mecha sobre o rosto, que ela rearrumava caprichosamente no finíssimo aro de prata que lhe ornava a cabeça.
A pele das faces era pálida tal qual cera. Os traços finos, tão delicados, pareciam que sob um olhar mais forte poderiam se rachar. Os olhos tinham cor de esmeralda, grandes, redondos e profundos, daqueles em que se perde ao fixar. Eram eles que davam um sopro de vida ao rosto. Era de uma beleza tão grande que espantava. Porém era a beleza mais triste que se poderia imaginar. A expressão de tristeza que carregavam seus olhos e sua face, tão tenra ainda, era tão notória que não havia quem não sentisse os olhos úmidos ao fitar-lhe o rosto.

Passava os dias dentro do castelo, andando pelos grandes salões. Por horas sentava-se frente às grandes janelas e tocava sua flauta de prata, diz-se que a flauta transversal mais brilhante e de mais doce som que jamais se ouviu tocar. Os ouvidos até os quais sua música chegava poderiam ficar dias inteiros ouvindo-a, sem jamais se cansar. Quando deixava de lado a flauta, sentava-se ao lado da dourada gaiola onde dormia seu rouxinol, ficava então a ouvir seu canto. Seu amor pelo pássaro era enorme, e nada dava-lhe mais contentação que ouvir-lhe o canto. Então sorria: o mais triste sorriso jamais visto, e nesses momentos era como se todo o mundo prendesse a respiração- o momento ficava suspenso no ar.

Muitos eram aqueles que dariam a vida para ver-lhe o rosto. Aqueles sobre os quais ela pousava o olhar eram inteiramente por ela decifrados; era como se seus olhos vissem tudo que ia no mais fundo das almas humanas. Nenhum porém, por mais que lhe fitasse, conseguia distinguir o que se passava dentro da imensidão verde de seus olhos; perdiam-se neles como num mergulho dentro de um cristal cheio de brilhos.
Às noites ela saía para caminhar pelos jardins. Gostava de sentir nos pés o frescor da terra úmida, o cheiro das plantas, o vento gélido que lhe passava pelos cabelos. Por vezes ficava noites inteiras a observar as estrelas. E nas noites de lua cheia, clareada pela alva luz lunar, ela ficava inteiramente branca. Se pudessem vê-la nesse momento, poucos diriam que era humana; mais parecia um anjo, e teriam a impressão de que a qualquer momento seus pés poderiam deixar o chão...

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