sábado, 21 de junho de 2008

Filosofia com muita imaginação

texto conjunto de Eduardo Graziani, Fabrício Lobel, Felipe Fontes, Felipe Lobo e Mariana Franco - de longe o trabalho escrito mais legal de ser feito até agora:
Numa das mesinhas da casa de chá da EFTSC (English Fairy Tales and Stories Center) estavam reunidos a Rainha de Copas, Peter Pan, Robin Hood e Hermione Granger, desfrutando o típico chá das cinco. Quando a porta abriu, deixando entrar uma rajada de vento e a luz do sol, todos, exceto a Rainha, se voltaram para olhar quem chegava.

_ Vejam se não é nosso colega francês, o Pequeno Príncipe!_ exclamou Robin Hood
- O Pequeno príncipe?!- perguntou Hermione com leve assombro.- li sobre sua história, é linda!- a cada palavra crescia a exaltação por conhecer o estrangeiro.
Peter Pan imediatamente subiu em sua cadeira e acenou para o recém chegado:
_Ei, parceiro, vem sentar aqui!
Só quando o recém-chegado sentou-se à mesa com os outros que a Rainha de Copas ergueu os olhos de sua xícara para examiná-lo:
-Oh! Que insolente! É contra a etiqueta bocejar na frente de uma rainha!
_Não consigo me controlar. Eu fiz uma viagem muito longa e não dormi.
_Você está chegando direto da França?_ indagou Hermione com sua empolgaçao a um nível que parecia irritar a Rainha.
_Sim. Vim pelo sistemas de intercâmbio dos Central de Contos de Fadas e Histórias.
_Ahhh, é verdade_ animou-se Peter Pan _ o capitão Gancho tinha mesmo me contado dessa nova política da Central... parece que eles conseguiram mandar o Chapeleiro maluco, nesses intercâmbios lá pra França. Pelo menos ele deu uma trégua pra gente... Parece que ele tá aprontando o diabo lá na Central de Paris! Da última vez que soube dele, tiveram que arrancá-lo de um Café.
-A Central está cada vez pior... Acreditam que eles quase mandaram o Chapeleiro, meu súdito, sem me consultar? Ainda bem que eu fiquei sabendo e autorizei a viagem. Mas podem deixar que já marquei as execuções dos responsáveis!
O Pequeno Príncipe foi-se servindo de chá. A Rainha solicitou a Peter Pan que a servisse de chá também. Ele, que não gostava de ordens, tratou de, disfarçadamente, pegar um vidrinho de poção que estava à mostra no bolso de Hermione e derramar algumas gotas na xícara da Rainha.
_ Ah, este chá está horrível!- disse a Rainha logo depois de ganhar um tom de pele levemente verde- Onde é que está a "qualidade em primeiro lugar" da Central Inglesa?
_ É realmente um problema, nisso posso concordar com você. Eles estão sempre cortando custos, e começam realmente pelo chá dos trabalhadores. Sempre assim, tirando dos que menos têm. _ retrucou Robin Hood.
- Oh, mais uma palavra desse discurso subversivo e perderá a cabeça!
-Deixe de ser convencida, Rainha_ disse Hermione_ Você só tem poder dentro da história da Alice. Aqui somos todos iguais, trabalhadores.
-Ah, mas ela não percebe isso, Hermione_ continuou Hood_ para ela somos todos súditos, simplesmente. E porque existem mais como ela é que há tantos passando fome! Minha terra, Sherwood, é o maior exemplo disso.
-Não seja tolo, senhor Hood. Sua terra só é um desastre como diz porque seu Rei é um fraco, que não sabe tomar as rédeas do poder, e além de tudo, existem os bandoleiros promotores de confusão como você. O senhor na verdade não passa de um ladrão. Se morasse em meu reino eu não permitiria isso, e me usaria sabiamente da força.
-Força? Se o governante usa a força o controle se dá pela violência, o que só piora a situação. Você é sim uma tirana maluca, que acha que tem poder sobre tudo só porque é rainha. As pessoas precisam é de liberdade, e simplesmente saber até que ponto podem exercer a sua liberdade sem ferir a liberdade do próximo. Abaixo os reis e os governos!
-Cale-se, seu plebeu insolente! Como ousa proferir tamanhas atrocidades frente a alguém de sangue nobre? A liberdade que você defende é bagunça, isso sim. Plebeus como você não têm direito de decidir sobre nada. Eu, que tenho sangue nobre é que posso decidir sobre tudo. Por meu sangue tenho o direito de reinar!
Nesse momento, o Pequeno Príncipe entrou na conversa:
-Com licença, senhora, sobre quem a senhora reina?
-Sobre tudo. Toda e qualquer coisa que possa ser vista em meu reino.
-Sobre tudo isso? Sobre as estrelas também?
-Sim, eu disse tudo, não?
-E as estrelas obedecem à senhora?
-Claro. Elas obedecem prontamente. Eu não admito indisciplina!
-Sabe, eu já conheci um rei uma vez. E ele também reinava sobre tudo, inclusive as estrelas.
-Não é possível! EU reino sobre tudo! EU sou a rainha! EU! EU! EU!
-Iria ser complicado se vocês dois se conhecessem, não iria? Acho que essa coisa de só um mandar e o resto obedecer é bem estranha, até para os adultos. E se você se enganar?
-Há! Eu nunca me engano. Eu sei de tudo que acontece no meu reino!
-A senhora não sabia que o chapeleiro maluco ia viajar, sabia? Não sabia que existia um outro rei que mandava em tudo, sabia? E aposto que a senhora não sabe que o Robin Hood acabou de roubar seus anéis.
A Rainha de Copas Abriu a boca para falar e a fechou algumas vezes, enquanto a mesa toda ria da conversa que acabaram de ter. Foi nessa que o Robin hood se levantou e bradou:
- Pois é isso mesmo! Viva a liberdade! Viva a anarquia!
O pequeno príncipe, curioso: -Anarquia? Senhor Hood, você poderia me explicar quem é essa tal de senhora anarquia?
- Anarquia não é uma mulher, pequeno. É uma forma de governo. Na verdade, uma forma de não-governo. É a liberdade total, onde todos podem fazer o que quiser, sem ninguém mandar você parar!
-Mas isso não seria complicado? E se tiver alguém que queira cortar todas as rosas do mundo? Não seria triste um mundo sem rosas?
-Bem, err...há sempre algumas camélias pra se enfeitar- disse Hood com uma voz sem a emoçao de antes.
-Mesmo não concordando com a rainha, não apóio você. Acho que as pessoas não podem ser controladas por tiranas loucas que nem essa daí, mas também não podem ser livres pra fazer o que quiser, como você diz.
-E qual é a sua solução, então?!- bradaram a Rainha de Copas e Robin Hood, já indignados com a visita do estranho.
-Acho que se a gente reunisse várias pessoas muito muito inteligentes, e pedissem pra elas governarem, seria bonito. Elas seriam justas, pois seriam sábias. E elas plantariam milhões de rosas e fariam o sol se pôr atrás delas. Ah Hood, suas camélias tambem teriam o seu lugar. Deve ser lindo.
Todos ficaram calados por algum tempo, com o olhar perdido, como se avistassem todas aquelas rosas e pôres do sol. Pan foi o primeiro que voltou à casa de chá:
- Poxa, Pequeno Príncipe, seria lindo mesmo! Tão lindo quanto as lutas de espada com o Gancho e as sereias cantando lá na Terra do Nunca. Realmente, acho que a beleza é essencial.- Falando isso jogou pra trás os cabelos que lhe caíam no rosto e olhou fixamente para Hermione.- vocês não acham?
Hermione piscou algumas vezes e olhou com ar de desprezo para o menino, que se adimirava usando uma colher de chá como espelho.
- Você estaria falando sobre as rosas ou sobre você mesmo, Pan? Pois eu acho que existem coisas muito mais importantes que a beleza, como a sabedoria. Sabe, toda beleza passa. Até mesmo as rosas mais belas murcham. Só você, que tem é medo de crescer, não vê isso. Você pode nunca perder sua beleza, mas também nunca vai amadurecer nem adiquirir sabedoria.
O Pequeno Príncipe bateu amistosamente no ombro de Pan.
-Calma, Peter. As crianças devem ser muito pacientes com as pessoas grandes.
Pan soltou com isso uma bela gargalhada, e o Pequeno Príncipe sorriu também, pelo contentamento do outro.
-Podem rir a vontade. Não ligo. Eu vou é ser sábia. Sou uma pessoa séria!
-Uma pessoa séria? -perguntou o Pequeno Príncipe- Sabe, eu conheci uma vez um planeta onde existe um homem que nunca cheirou uma flor, nunca olhou uma estrela, nunca fez outra coisa que não fosse contas de somar. E todo dia ele repete, como você: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o deixa orgulhoso. Mas isso não é um homem, é um vegetal! Aliás, o que seria do mundo se as pessoas só fossem sábias, mas não percebessem nunca a beleza das coisas? Pra que serviria ser tão sábio então?
Hermione, silenciada, baixou a cabeça, refletindo sobre o assunto.-Tá vendo, Hermione?- riu Pan - Eu disse que a beleza era essencial não disse? E eu acho que o amor também só existe por causa dela, você não acha Pequeno Príncipe?
-Hmmmm. Peter, você gosta bastante dos Meninos Perdidos, não gosta?
-Os Meninos! Claro que gosto, eu sou como o pai deles. Ensinei pra eles a lutar com espada e tudo mais que eles sabem agora! Eles são muito importantes pra mim!
-E... eles são bonitos?
Pan soltou uma gargalhada: -Bonitos? São é uns nojentos, sempre com caca escorrendo do nariz!
-Mas se eles não são bonitos, como você gosta deles?
O menino se atrapalhou um pouco pra responder, tropeçando nas palavras:
-Bom, eles... ahn... eles estão lá na Terra do Nunca comigo faz bastante tempo. E... eu passei um tempão ensinando eles a lutar, e.... bom, moramos juntos, oras!
-Então a beleza não deve ser tão essencial assim pra gente gostar das pessoas, você não acha? Na verdade, eu acho que o essencial é invisível aos olhos. Você gosta dos Meninos porque passou muito tempo com eles. Eles o cativaram. E... sabe, lá no meu planeta eu tinha uma rosa, e ela se tornou importante pra mim porque todo noite eu colocava um redoma sobre ela, e todo dia tirava de perto dela as ervas daninhas que nasciam. Aposto que também foi assim quando você ensinou os meninos a lutar, não foi? É o tempo que a gente gasta com as pessoas que as tornam importantes pra gente.
Mais uma vez, a mesa silenciou e se encheu de olhares perdidos em mundos distintos. O Pequeno Príncipe de repente se lembrou que não tinha alimentado seu carneiro antes de sair. Sem dizer palavra, levantou-se e foi andando com seus passinhos miúdos para o hotel.
Alguns minutos depois, quando todos voltaram a falar e beber chá, Robin Hood comentou:
-Engraçado, esse chá parece bem mais doce agora, não?


domingo, 15 de junho de 2008

O discurso de um burguês

- e a tristeza de reconhecer nele o seu pai:

"Tá vendo tudo isso aqui? Isso aqui antes era um lixo, horrível. Tudo cheio dessas favelas que nem essas, ó. Mas aí arrumaram a avenida e começaram a melhorar. Foram expulsando esses filha-da-putas, derrubando os barracos, e aí, ó, lá pra cima tão construindo um baita condomínio bonito. Daqui a pouco chega até aqui e sai esses barracos de cá também. Quem tem uma casinha dessa daí se deu bem, valorizou barbaridade! Aí, que avenida bonita que tá pra cá, esses prédios bonitos!"

O carro passando.
Lá no fim da avenida se ergue majestosamente a ponte nova, tão esperada, com seus cabos verde-limão e sua luz que muda de cor.

Então é assim que se arruma tudo: faz a avenida, explusa os pobres das beiradas, destrói os barracos, põe condomínios de classe média e prédios comerciais em volta e está tudo certo - não precisamos mais ver a favela na volta pra casa. Temos mais uma bela avenida, e mais um hipócrita gordo e conservador passando de carro para admirá-la.