quinta-feira, 10 de abril de 2008

Forças em Campo no Campus - A greve 2008

V Congresso, punições e Campanha Salarial: motivos da greve que pode vir por aí. --- "Reitoria está cutucando onça com palito de dente."

Traçando-se uma linha do tempo, o III Congresso da USP ocorreu em 1987, na época de redemocratização pós ditadura militar. Ele resultou na reforma do Estatuto Universitário de 88. Após quatorze anos, em 2001, aconteceu o IV Congresso. Naquela época já havia quem dissesse que a tendência era a situação universitária piorar gradativamente; e, se analisarmos os quatro anos com greves sucessivas que tivemos (2004, 2005, 2006 e a culminância com a ocupação em 2007), podemos concluir que aquelas afirmações não são de todo descabidas.
A ocorrência de greves no decorrer do ano depende do nível de mobilização que se obtém desde o início do ano com reuniões e debates entre os estudantes, funcionários e professores. Porém, depende também das motivações pontuais, que funcionam como estopins: como foram os decretos do Serra ano passado e o escândalo com o reitor da UnB atualmente. E aqui, as greves vão acontecer?
O mais provável motivo de greve que se contabiliza para esse ano é o desenrolar do V Congresso da USP. Com data marcada de 26 a 31 de maio, pelo calendário oficial da universidade, é uma das conquistas do movimento de ocupação do ano passado. O Congresso é aberto a toda a comunidade universitária, e diversas assembléias têm sido feitas para a discussão dos rumos que se espera para ele. O principal caráter que se tem atribuído é o estatuinte, visando a modernização e democratização do Estatuto Universitário, que se reclama ser o mais atrasado dentre as universidades públicas brasileiras. Ao mesmo tempo, tenta-se barrar uma ação paralela de reforma do Estatuto feita pela reitoria, que para muitos traria mais malefícios que benefícios. O esperado é que, barrando essa ação, o Estatuto seja discutido totalmente no Congresso, com a presença de toda a comunidade universitária, e não só com a reitoria.
Porém, existem outras correntes de discussão para o Congresso, que tentam incluir mais assuntos à pauta constituinte. Seguindo essa corrente de maior abrangência, haverá uma assembléia nessa quinta-feira, 10/04, às 18:00 no IME – aberta, porém, a estudantes de todas as unidades. Em todas as previsões, tem-se considerado provável uma greve em junho, em decorrência dos desdobramentos do congresso.
Ainda em decorrência da ocupação da reitoria de 2007, estudantes e funcionários estão sendo intimados por uma sindicância da reitoria , com objetivo de responsabilizá-los por danos causados à universidade. Com o mesmo objetivo, foi aberto um inquérito policial pelo Governo Serra na 14ª DP.
A representante do SINTUSP, Solange Veloso, foi intimada pela delegacia, e prestou depoimento no inquérito do governo estadual na tarde desta segunda-feira, 07/04.Ela conta que foi interrogada acerca de pixações e danos à Praça do Relógio, e que pediram para que ela identificasse, em fotos, as pessoas que estavam no alto do Relógio. Ela alegou não reconhecer os manifestantes.
O diretor do SINTUSP, Claudionor Brandão, intimado pela sindicância da reitoria, diz estar havendo um movimento não só de punição à ocupação, mas que pretende desmontar a organização de estudantes, docentes e funcionários, para a eliminação de oposição. Segundo ele, “a reitoria está cutucando onça com palito de dente”.
O terceiro possível motivo para paralisações é a Campanha Salarial que se inicia, cobrando do
Cruesp o cumprimento do acordo feito no ano passado, que destinava o excedente dos R$43,62 bilhões de arrecadação do ICMS para ajustes salariais, dentre outros, como questões de apoio estudantil.
As forças estão entrando em campo. Agora é esperar o desenrolar dos fatos para saber se a greve virá ou não.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Harmonia do Saber

texto produzido pelos jornots Aline, Heloísa, Luiza, Maria Carolina, Mariana e Túlio, para a aula de filosofia

Super Interessante - Jornots 2008
Você nem imagina, mas ouvir Beatles no iPod é pura filosofia!

Imagine sua vida sem iPod. E sem Internet. Sem celular. TV. Rádio? Seria possível, na era tecnológica avançadíssima em que vivemos, conceber um mundo sem luz?! O que, então, restaria para fazer do nosso precioso, mas interminável tempo no escurinho da noite, sem eletricidade? Não, mente poluída... Você está desacompanhado. Pense um pouco... Alguma idéia? Algo que as pessoas faziam na antiguidade (sim, muito tempo atrás) numa situação como esta, antes da invenção de toda a parafernália tecnológica de que dependemos hoje, era filosofar.

Peraí, filosofia??? Aquela mesma matéria chata que os velhos esquizofrênicos da era paleozóica inventaram para confundir a nossa vida e tornar aquelas aulas da escola simplesmente algo que dava sono? Calma... A Filosofia está muito mais presente no nosso dia-a-dia do que você poderia imaginar.

Quer ver? Você, no ônibus ou no carro, preso no trânsito, liga o seu iPod para ouvir os Beatles e passar o tempo. Nesse ato corriqueiro, sem nem perceber, você está unindo e vivendo dois dos pensamentos mais antagônicas da Filosofia Antiga: os de Heráclito e Parmênides.

Ih, já começou os nomes difíceis... Mas não se preocupe, isso tudo é mais simples do que pode parecer.

Pense no modo como você ouve música e como isso evoluiu rapidamente. Os gramofones deram espaço para os discos de vinil, que foram substituídos pela fita cassete, que, por sua vez, sucumbiu ao CD. Hoje, nem é mais necessário gravar esses intermediários... Pequenas placas para armazenar informação permitem carregar, em um pequeno aparelho, todas as músicas que o seu coração desejar. Essa mudança, fruto da interminável concorrência entre empresas e inventores, onde nada permanece inalterado, é o ponto de partida para entender Heráclito. Para esse filosofo, um dos pensadores mais antigos de quem possuímos registro, o mundo era um ‘devir eterno’, um rio que continua fluindo para sempre, nunca agora como foi antes e será depois.

Tem melhor maneira de explicar os constantes avanços tecnológicos que presenciamos diariamente?

Agora, pense na música: o ato de unir as notas e as melodias de tal maneira harmônica á formar uma canção. A combinação de instrumentos muda, o que é harmonia também, mas a música em si, desde de seus primórdios na história da humanidade, permanece. Como os Beatles que você estava escutando no ônibus, a música é... pode ser pensada, escrita, tocada. Ela é constante, eterna. Essa existência, que transcende o tempo, os modismos e a mera ilusão dos sentidos, permite a consagração da música e dos diferentes legados musicais. Essa afirmação absoluta foi primeiro descrita por Parmênides, outro filosofo antigo. Ele acreditava na essência das coisas; estas, sim, únicas e imutáveis.

Então, quer dizer que, se Heráclito acreditava que tudo vive em eterna mudança e Parmênides acreditava que há algo supremo que não pode ser alterado, um debate entre os dois terminaria em guerra? Nem tanto...

Por mais desavenças que pareçam existir entre esses dois pensadores, eles se complementam muito bem, principalmente em relação ao nosso exemplo em que voc se vê escutando Beatles no seu iPod. Basta compreender que, os heleatas, seguidores de Parmênides, se referem á forma e os heraclitinanos, seguidores de Heráclito, ao conteúdo. A música, contido em um mundo tecnológico desmistifica a idéia de que dois pensamentos opostos seriam incapazes de funcionar harmonicamente. Ao mesmo tempo em que a ideologia de consumismo atual propõe a constante renovação e o aprimoramento das formas de se reproduzir música - encarnando Heráclito –, a perpetuação de grandes artistas da música, desde os Beatles até Bethoven, através das gerações – retomando Parmênides – é um fato comprovado.

Ficou mais claro?

O mundo está em constante mutação, nossa vida muda a cada dia. Porém os pensamentos que datam de séculos antes de Cristo sobrevivem ao longo do tempo e das gerações. Sempre presentes, os mais diferentes pensamentos se entrelaçando e andando de mãos dadas. Afinal o mundo é grande e tem capacidade de acolher todos os pensamentos que lhe pedirem abrigo.