terça-feira, 26 de junho de 2007

O Caminho das Pedras (e dos pontos de interrogação)

Dos alunos provenientes de escolas públicas, excetuando-se as técnicas, que fogem à regra geral da decadência, poucos realmente ambicionam chegar a uma universidade "top de linha". A maioria (dos que seguem para o ensino superior) acaba em faculdades privadas onde o estudo é encarado da mesma forma que era nas escolas (onde, por exemplo, alunos são dispensados em pleno horário letivo para pagar contas de professores por simples inexistência das aulas). O que entende-se é que a importância é dada ao diploma, e não ao conhecimento adquirido.
Na contramão, alunos superlotam colégios e cursos pré-vestibulares privados, na luta por uma vaga nas melhores instituições do país. Porém, as tão afamadas universidades públicas se mostram agora um caminho duvidoso pelo qual seguir para aqueles que cresceram sonhando com elas e agora, às vésperas das inscrições dos vestibulares, vêem seus sonhos se pontuarem de dúvidas frente ao panorama que vislumbram.
Ingressar numa instituição publica hoje é, depois de passar por uma concorrência desleal, estar sujeito a enfrentar carências diversas, a ficar por meses sem aulas ou mesmo às previsões de suas voltas. É um preço alto a se pagar por um ensino de excelência.
A situação pela qual passa a USP, "epicentro" para as demais universidades públicas do estado e até do país, nos enche ainda mais de temores quanto ao futuro do ensino superior brasileiro, se até no desmanche do maior centro de ensino público já se chega afalar. Se o que chega à vista da imprensa já assusta, o que não deve se passar lá dentro que não chega aos nossos ouvidos?
Tendo todo um futuro em jogo, muitos acabam optando por faculdades privadas, que além de oferecerem um bom ensino (as boas faculdades, é bom lembrar! ), não são um caminho duvidoso pelo qual seguir. Como smpre na história desse país, sorte de quem pode pagar pelo melhor.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Encanto

Seus pés descalços passeavam pelo grande salão de mármore branco, o tecido do longo e alvo vestido esvoaçava lentamente a seus calcanhares. Os movimentos eram suaves, leves, como se ela estivesse imersa em água: parecia que não possuia peso. Os cabelos, cor de madeira, escorregavam ondulantes pelas costas; às vezes caía-lhe uma mecha sobre o rosto, que ela rearrumava caprichosamente no finíssimo aro de prata que lhe ornava a cabeça.
A pele das faces era pálida tal qual cera. Os traços finos, tão delicados, pareciam que sob um olhar mais forte poderiam se rachar. Os olhos tinham cor de esmeralda, grandes, redondos e profundos, daqueles em que se perde ao fixar. Eram eles que davam um sopro de vida ao rosto. Era de uma beleza tão grande que espantava. Porém era a beleza mais triste que se poderia imaginar. A expressão de tristeza que carregavam seus olhos e sua face, tão tenra ainda, era tão notória que não havia quem não sentisse os olhos úmidos ao fitar-lhe o rosto.

Passava os dias dentro do castelo, andando pelos grandes salões. Por horas sentava-se frente às grandes janelas e tocava sua flauta de prata, diz-se que a flauta transversal mais brilhante e de mais doce som que jamais se ouviu tocar. Os ouvidos até os quais sua música chegava poderiam ficar dias inteiros ouvindo-a, sem jamais se cansar. Quando deixava de lado a flauta, sentava-se ao lado da dourada gaiola onde dormia seu rouxinol, ficava então a ouvir seu canto. Seu amor pelo pássaro era enorme, e nada dava-lhe mais contentação que ouvir-lhe o canto. Então sorria: o mais triste sorriso jamais visto, e nesses momentos era como se todo o mundo prendesse a respiração- o momento ficava suspenso no ar.

Muitos eram aqueles que dariam a vida para ver-lhe o rosto. Aqueles sobre os quais ela pousava o olhar eram inteiramente por ela decifrados; era como se seus olhos vissem tudo que ia no mais fundo das almas humanas. Nenhum porém, por mais que lhe fitasse, conseguia distinguir o que se passava dentro da imensidão verde de seus olhos; perdiam-se neles como num mergulho dentro de um cristal cheio de brilhos.
Às noites ela saía para caminhar pelos jardins. Gostava de sentir nos pés o frescor da terra úmida, o cheiro das plantas, o vento gélido que lhe passava pelos cabelos. Por vezes ficava noites inteiras a observar as estrelas. E nas noites de lua cheia, clareada pela alva luz lunar, ela ficava inteiramente branca. Se pudessem vê-la nesse momento, poucos diriam que era humana; mais parecia um anjo, e teriam a impressão de que a qualquer momento seus pés poderiam deixar o chão...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Abramos os Olhos

Lendo na Veja de hoje sobre as manifestações estudantis na Venezuela, me sinto perplexa. Depois de tantas experiências que provam o quanto regimes totalitários são um mal para a sociedade, um está tentando se instalar, ali, nosso vizinho, bem debaixo do nosso nariz, em pleno ano de 2007. As atrocidades já assustam, são motoqueiros mascarados a serviço de Chavez agredindo manifestantes, são ameaças de morte que lembram muito o período militar brasileira, história que aqueles que não viveram o período, como eu, pelo menos já ouviram muito falar. Como tenho uma amiga na Venezuela, acabo me sentindo mais interessada em saber o que está acontecendo, e ela, que está prestes a entrar na universidade, conta como todos lá estão com medo de no futuro morar em uma nova Cuba.
Os venezuelanos nos dão uma lição: de que mesmo com todos os prblemas que enfrentamos, e mesmo com toda a palhaçada, impunidade, corrupção (e a lista segue...) que reina no Brasil, vivemos em perfeita liberdade de expressão, numa democracia , e devemos prezar isso como povo que já passou pelo horror de um regime militar. E mesmo assim fazemos protestos infundados, desorganizados e violentos, recebemos tratamento privilegiado e não medimos as consequências dos nossos atos, são extrapolados todos os limites; enquanto eles lutam com extrema organização, sem armas, por sua liberdade de expressão, e ainda assim, têm de conviver com o medo de represálias do governo. Aprendamos com eles a lição, que sabíamos décadas atrás, mas que esquecemos, e abramos os olhos para o que está acontecendo no mundo bem perto de nós. O mundo não pode aceitar mais uma ditadura.