terça-feira, 12 de agosto de 2008

Como Queremos o Centenário da Semana Euclidiana?

Ano após ano diminui o número de maratonistas e o tamanho dos eventos. Estará a Maratona Euclidiana fadada ao gradual declínio e término?

O Seminário de abertura da 96ª Semana Euclidiana, ocorrido no sábado, dia 9 de agosto, foi a mais curta cerimônia de abertura de que se tem notícia. Marcada para começar às 10 horas, contabilizando-se um pequeno atraso, execução do hino nacional, as devidas apresentações, homenagens e palestras; às 11:15h já tinha acabado.
Os palestrantes Lando Lofrano e Maria Olívia de Arruda disseram ter preparado seminários de cerca de uma hora cada, porém, preferiram deixar de lado o material para fazer uma exposição mais curta e superficial dos assuntos. O motivo? A faixa etária da platéia. Acostumados a palestrar para uma maioria de estudantes do ensino médio, os professores depararam-se com um auditório cheio majoritariamente de crianças, desde os nove anos de idade.
O Ciclo de Estudos Euclidianos era tradicionalmente direcionado para alunos de 7ª e 8ª séries (Área I ), ensino médio (Área II ), e alunos de ensino superior ou professores (Área III ). Numa iniciativa de familiarizar as crianças rio-pardenses mais cedo com a obra euclidiana, foram acrescentadas no ano passado a Área I-A (5ª e 6ª séries); e nesse ano a Área Inicial (3ª e 4ª séries). Apesar de ser uma temática pesada, há maneiras de iniciar os pequenos no euclidianismo com sucesso; e é sem dúvida necessário ensinar às nossas crianças essa parte tão importante da história da cidade e do país.
O problema, entretanto, é que enquanto as áreas inicial e I incham de pequenos maratonistas, o número de alunos nas áreas II e III declina sensivelmente. Para quem acompanhou a Semana, os Ciclos de Estudos e os alojamentos durante os últimos anos, é muito claro como ano após ano o número de maratonistas diminuiu. Para quem estava acostumado a ver a cidade cheia de alunos nessa época do ano, chega a ser deprimente ver o reduzido número de maratonistas que agora estão aqui alojados.
Todos os anos, orgulhosamente, proclamamos que São José do Rio Pardo é a Meca do Euclidianismo, referência em todo o Brasil quanto a esse assunto; e que a Semana Euclidiana é o evento cultural mais antigo do país. A verdade, porém, é que fora daqui a Semana é praticamente desconhecida: são poucas as cidades e escolas que mantém contato com a Casa Euclidiana, usualmente só aquelas que têm vínculo com algum professor do Ciclo de Estudos. As universidades estaduais e federais do estado e seus professores ignoram completamente a Semana, e muitos até mesmo o fato de Euclides ter morado e escrito grande parte de Os Sertões aqui. Muitos dos maratonistas de fora têm de vir sem apoio algum para cá, empenhando-se inclusive em provar que a Semana Euclidiana existe para conseguirem uma autorização da direção de suas escolas. A participação em um movimento tão grande e enriquecedor, intelectual e culturalmente, não é incentivada por falta de conhecimento e divulgação. É como se todo ano organizássemos uma grande festa mas não convidássemos ninguém para ela.
O ensino para as crianças é importante, mas deveria ser dado mais ênfase nas áreas II e III, inclusive com projetos de produção intelectual, pois é aí que se concretizarão os estudos e daí que sairão os próximos projetos e professores para renovar e dar continuidade ao ciclo de estudos.
É preciso que a Casa Euclidiana, os alunos e professores divulguem esse movimento em locais de interesse: escolas de ensino médio, cursos de história, geografia, ciências sociais, jornalismo, pedagogia e outros dos campus das nossas universidades públicas. A vinda desses alunos seria um grande enriquecimento para o Ciclo!
Se a Semana continuar sem divulgação eficiente, com olhar fechado apenas na própria cidade de São José, seguirá encolhendo: um acontecimento de grande fama, grande história, mas pouco conhecimento e repercussão. E no centenário, daqui a 4 anos, terá ainda forças para continuar?
Se as devidas providências começarem a ser tomadas agora, poderemos presenciar um grande centenário da Semana Euclidiana, ainda com potencial de se renovar e seguir por anos. Se nos acomodarmos, entretanto, o centenário marcará também o triste e decadente final da mais antiga Semana Cultural do país.

Ah, sim! Para aqueles que nunca ouviram falar da Semana Euclidiana: Casa Euclidiana

sábado, 21 de junho de 2008

Filosofia com muita imaginação

texto conjunto de Eduardo Graziani, Fabrício Lobel, Felipe Fontes, Felipe Lobo e Mariana Franco - de longe o trabalho escrito mais legal de ser feito até agora:
Numa das mesinhas da casa de chá da EFTSC (English Fairy Tales and Stories Center) estavam reunidos a Rainha de Copas, Peter Pan, Robin Hood e Hermione Granger, desfrutando o típico chá das cinco. Quando a porta abriu, deixando entrar uma rajada de vento e a luz do sol, todos, exceto a Rainha, se voltaram para olhar quem chegava.

_ Vejam se não é nosso colega francês, o Pequeno Príncipe!_ exclamou Robin Hood
- O Pequeno príncipe?!- perguntou Hermione com leve assombro.- li sobre sua história, é linda!- a cada palavra crescia a exaltação por conhecer o estrangeiro.
Peter Pan imediatamente subiu em sua cadeira e acenou para o recém chegado:
_Ei, parceiro, vem sentar aqui!
Só quando o recém-chegado sentou-se à mesa com os outros que a Rainha de Copas ergueu os olhos de sua xícara para examiná-lo:
-Oh! Que insolente! É contra a etiqueta bocejar na frente de uma rainha!
_Não consigo me controlar. Eu fiz uma viagem muito longa e não dormi.
_Você está chegando direto da França?_ indagou Hermione com sua empolgaçao a um nível que parecia irritar a Rainha.
_Sim. Vim pelo sistemas de intercâmbio dos Central de Contos de Fadas e Histórias.
_Ahhh, é verdade_ animou-se Peter Pan _ o capitão Gancho tinha mesmo me contado dessa nova política da Central... parece que eles conseguiram mandar o Chapeleiro maluco, nesses intercâmbios lá pra França. Pelo menos ele deu uma trégua pra gente... Parece que ele tá aprontando o diabo lá na Central de Paris! Da última vez que soube dele, tiveram que arrancá-lo de um Café.
-A Central está cada vez pior... Acreditam que eles quase mandaram o Chapeleiro, meu súdito, sem me consultar? Ainda bem que eu fiquei sabendo e autorizei a viagem. Mas podem deixar que já marquei as execuções dos responsáveis!
O Pequeno Príncipe foi-se servindo de chá. A Rainha solicitou a Peter Pan que a servisse de chá também. Ele, que não gostava de ordens, tratou de, disfarçadamente, pegar um vidrinho de poção que estava à mostra no bolso de Hermione e derramar algumas gotas na xícara da Rainha.
_ Ah, este chá está horrível!- disse a Rainha logo depois de ganhar um tom de pele levemente verde- Onde é que está a "qualidade em primeiro lugar" da Central Inglesa?
_ É realmente um problema, nisso posso concordar com você. Eles estão sempre cortando custos, e começam realmente pelo chá dos trabalhadores. Sempre assim, tirando dos que menos têm. _ retrucou Robin Hood.
- Oh, mais uma palavra desse discurso subversivo e perderá a cabeça!
-Deixe de ser convencida, Rainha_ disse Hermione_ Você só tem poder dentro da história da Alice. Aqui somos todos iguais, trabalhadores.
-Ah, mas ela não percebe isso, Hermione_ continuou Hood_ para ela somos todos súditos, simplesmente. E porque existem mais como ela é que há tantos passando fome! Minha terra, Sherwood, é o maior exemplo disso.
-Não seja tolo, senhor Hood. Sua terra só é um desastre como diz porque seu Rei é um fraco, que não sabe tomar as rédeas do poder, e além de tudo, existem os bandoleiros promotores de confusão como você. O senhor na verdade não passa de um ladrão. Se morasse em meu reino eu não permitiria isso, e me usaria sabiamente da força.
-Força? Se o governante usa a força o controle se dá pela violência, o que só piora a situação. Você é sim uma tirana maluca, que acha que tem poder sobre tudo só porque é rainha. As pessoas precisam é de liberdade, e simplesmente saber até que ponto podem exercer a sua liberdade sem ferir a liberdade do próximo. Abaixo os reis e os governos!
-Cale-se, seu plebeu insolente! Como ousa proferir tamanhas atrocidades frente a alguém de sangue nobre? A liberdade que você defende é bagunça, isso sim. Plebeus como você não têm direito de decidir sobre nada. Eu, que tenho sangue nobre é que posso decidir sobre tudo. Por meu sangue tenho o direito de reinar!
Nesse momento, o Pequeno Príncipe entrou na conversa:
-Com licença, senhora, sobre quem a senhora reina?
-Sobre tudo. Toda e qualquer coisa que possa ser vista em meu reino.
-Sobre tudo isso? Sobre as estrelas também?
-Sim, eu disse tudo, não?
-E as estrelas obedecem à senhora?
-Claro. Elas obedecem prontamente. Eu não admito indisciplina!
-Sabe, eu já conheci um rei uma vez. E ele também reinava sobre tudo, inclusive as estrelas.
-Não é possível! EU reino sobre tudo! EU sou a rainha! EU! EU! EU!
-Iria ser complicado se vocês dois se conhecessem, não iria? Acho que essa coisa de só um mandar e o resto obedecer é bem estranha, até para os adultos. E se você se enganar?
-Há! Eu nunca me engano. Eu sei de tudo que acontece no meu reino!
-A senhora não sabia que o chapeleiro maluco ia viajar, sabia? Não sabia que existia um outro rei que mandava em tudo, sabia? E aposto que a senhora não sabe que o Robin Hood acabou de roubar seus anéis.
A Rainha de Copas Abriu a boca para falar e a fechou algumas vezes, enquanto a mesa toda ria da conversa que acabaram de ter. Foi nessa que o Robin hood se levantou e bradou:
- Pois é isso mesmo! Viva a liberdade! Viva a anarquia!
O pequeno príncipe, curioso: -Anarquia? Senhor Hood, você poderia me explicar quem é essa tal de senhora anarquia?
- Anarquia não é uma mulher, pequeno. É uma forma de governo. Na verdade, uma forma de não-governo. É a liberdade total, onde todos podem fazer o que quiser, sem ninguém mandar você parar!
-Mas isso não seria complicado? E se tiver alguém que queira cortar todas as rosas do mundo? Não seria triste um mundo sem rosas?
-Bem, err...há sempre algumas camélias pra se enfeitar- disse Hood com uma voz sem a emoçao de antes.
-Mesmo não concordando com a rainha, não apóio você. Acho que as pessoas não podem ser controladas por tiranas loucas que nem essa daí, mas também não podem ser livres pra fazer o que quiser, como você diz.
-E qual é a sua solução, então?!- bradaram a Rainha de Copas e Robin Hood, já indignados com a visita do estranho.
-Acho que se a gente reunisse várias pessoas muito muito inteligentes, e pedissem pra elas governarem, seria bonito. Elas seriam justas, pois seriam sábias. E elas plantariam milhões de rosas e fariam o sol se pôr atrás delas. Ah Hood, suas camélias tambem teriam o seu lugar. Deve ser lindo.
Todos ficaram calados por algum tempo, com o olhar perdido, como se avistassem todas aquelas rosas e pôres do sol. Pan foi o primeiro que voltou à casa de chá:
- Poxa, Pequeno Príncipe, seria lindo mesmo! Tão lindo quanto as lutas de espada com o Gancho e as sereias cantando lá na Terra do Nunca. Realmente, acho que a beleza é essencial.- Falando isso jogou pra trás os cabelos que lhe caíam no rosto e olhou fixamente para Hermione.- vocês não acham?
Hermione piscou algumas vezes e olhou com ar de desprezo para o menino, que se adimirava usando uma colher de chá como espelho.
- Você estaria falando sobre as rosas ou sobre você mesmo, Pan? Pois eu acho que existem coisas muito mais importantes que a beleza, como a sabedoria. Sabe, toda beleza passa. Até mesmo as rosas mais belas murcham. Só você, que tem é medo de crescer, não vê isso. Você pode nunca perder sua beleza, mas também nunca vai amadurecer nem adiquirir sabedoria.
O Pequeno Príncipe bateu amistosamente no ombro de Pan.
-Calma, Peter. As crianças devem ser muito pacientes com as pessoas grandes.
Pan soltou com isso uma bela gargalhada, e o Pequeno Príncipe sorriu também, pelo contentamento do outro.
-Podem rir a vontade. Não ligo. Eu vou é ser sábia. Sou uma pessoa séria!
-Uma pessoa séria? -perguntou o Pequeno Príncipe- Sabe, eu conheci uma vez um planeta onde existe um homem que nunca cheirou uma flor, nunca olhou uma estrela, nunca fez outra coisa que não fosse contas de somar. E todo dia ele repete, como você: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o deixa orgulhoso. Mas isso não é um homem, é um vegetal! Aliás, o que seria do mundo se as pessoas só fossem sábias, mas não percebessem nunca a beleza das coisas? Pra que serviria ser tão sábio então?
Hermione, silenciada, baixou a cabeça, refletindo sobre o assunto.-Tá vendo, Hermione?- riu Pan - Eu disse que a beleza era essencial não disse? E eu acho que o amor também só existe por causa dela, você não acha Pequeno Príncipe?
-Hmmmm. Peter, você gosta bastante dos Meninos Perdidos, não gosta?
-Os Meninos! Claro que gosto, eu sou como o pai deles. Ensinei pra eles a lutar com espada e tudo mais que eles sabem agora! Eles são muito importantes pra mim!
-E... eles são bonitos?
Pan soltou uma gargalhada: -Bonitos? São é uns nojentos, sempre com caca escorrendo do nariz!
-Mas se eles não são bonitos, como você gosta deles?
O menino se atrapalhou um pouco pra responder, tropeçando nas palavras:
-Bom, eles... ahn... eles estão lá na Terra do Nunca comigo faz bastante tempo. E... eu passei um tempão ensinando eles a lutar, e.... bom, moramos juntos, oras!
-Então a beleza não deve ser tão essencial assim pra gente gostar das pessoas, você não acha? Na verdade, eu acho que o essencial é invisível aos olhos. Você gosta dos Meninos porque passou muito tempo com eles. Eles o cativaram. E... sabe, lá no meu planeta eu tinha uma rosa, e ela se tornou importante pra mim porque todo noite eu colocava um redoma sobre ela, e todo dia tirava de perto dela as ervas daninhas que nasciam. Aposto que também foi assim quando você ensinou os meninos a lutar, não foi? É o tempo que a gente gasta com as pessoas que as tornam importantes pra gente.
Mais uma vez, a mesa silenciou e se encheu de olhares perdidos em mundos distintos. O Pequeno Príncipe de repente se lembrou que não tinha alimentado seu carneiro antes de sair. Sem dizer palavra, levantou-se e foi andando com seus passinhos miúdos para o hotel.
Alguns minutos depois, quando todos voltaram a falar e beber chá, Robin Hood comentou:
-Engraçado, esse chá parece bem mais doce agora, não?


domingo, 15 de junho de 2008

O discurso de um burguês

- e a tristeza de reconhecer nele o seu pai:

"Tá vendo tudo isso aqui? Isso aqui antes era um lixo, horrível. Tudo cheio dessas favelas que nem essas, ó. Mas aí arrumaram a avenida e começaram a melhorar. Foram expulsando esses filha-da-putas, derrubando os barracos, e aí, ó, lá pra cima tão construindo um baita condomínio bonito. Daqui a pouco chega até aqui e sai esses barracos de cá também. Quem tem uma casinha dessa daí se deu bem, valorizou barbaridade! Aí, que avenida bonita que tá pra cá, esses prédios bonitos!"

O carro passando.
Lá no fim da avenida se ergue majestosamente a ponte nova, tão esperada, com seus cabos verde-limão e sua luz que muda de cor.

Então é assim que se arruma tudo: faz a avenida, explusa os pobres das beiradas, destrói os barracos, põe condomínios de classe média e prédios comerciais em volta e está tudo certo - não precisamos mais ver a favela na volta pra casa. Temos mais uma bela avenida, e mais um hipócrita gordo e conservador passando de carro para admirá-la.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Forças em Campo no Campus - A greve 2008

V Congresso, punições e Campanha Salarial: motivos da greve que pode vir por aí. --- "Reitoria está cutucando onça com palito de dente."

Traçando-se uma linha do tempo, o III Congresso da USP ocorreu em 1987, na época de redemocratização pós ditadura militar. Ele resultou na reforma do Estatuto Universitário de 88. Após quatorze anos, em 2001, aconteceu o IV Congresso. Naquela época já havia quem dissesse que a tendência era a situação universitária piorar gradativamente; e, se analisarmos os quatro anos com greves sucessivas que tivemos (2004, 2005, 2006 e a culminância com a ocupação em 2007), podemos concluir que aquelas afirmações não são de todo descabidas.
A ocorrência de greves no decorrer do ano depende do nível de mobilização que se obtém desde o início do ano com reuniões e debates entre os estudantes, funcionários e professores. Porém, depende também das motivações pontuais, que funcionam como estopins: como foram os decretos do Serra ano passado e o escândalo com o reitor da UnB atualmente. E aqui, as greves vão acontecer?
O mais provável motivo de greve que se contabiliza para esse ano é o desenrolar do V Congresso da USP. Com data marcada de 26 a 31 de maio, pelo calendário oficial da universidade, é uma das conquistas do movimento de ocupação do ano passado. O Congresso é aberto a toda a comunidade universitária, e diversas assembléias têm sido feitas para a discussão dos rumos que se espera para ele. O principal caráter que se tem atribuído é o estatuinte, visando a modernização e democratização do Estatuto Universitário, que se reclama ser o mais atrasado dentre as universidades públicas brasileiras. Ao mesmo tempo, tenta-se barrar uma ação paralela de reforma do Estatuto feita pela reitoria, que para muitos traria mais malefícios que benefícios. O esperado é que, barrando essa ação, o Estatuto seja discutido totalmente no Congresso, com a presença de toda a comunidade universitária, e não só com a reitoria.
Porém, existem outras correntes de discussão para o Congresso, que tentam incluir mais assuntos à pauta constituinte. Seguindo essa corrente de maior abrangência, haverá uma assembléia nessa quinta-feira, 10/04, às 18:00 no IME – aberta, porém, a estudantes de todas as unidades. Em todas as previsões, tem-se considerado provável uma greve em junho, em decorrência dos desdobramentos do congresso.
Ainda em decorrência da ocupação da reitoria de 2007, estudantes e funcionários estão sendo intimados por uma sindicância da reitoria , com objetivo de responsabilizá-los por danos causados à universidade. Com o mesmo objetivo, foi aberto um inquérito policial pelo Governo Serra na 14ª DP.
A representante do SINTUSP, Solange Veloso, foi intimada pela delegacia, e prestou depoimento no inquérito do governo estadual na tarde desta segunda-feira, 07/04.Ela conta que foi interrogada acerca de pixações e danos à Praça do Relógio, e que pediram para que ela identificasse, em fotos, as pessoas que estavam no alto do Relógio. Ela alegou não reconhecer os manifestantes.
O diretor do SINTUSP, Claudionor Brandão, intimado pela sindicância da reitoria, diz estar havendo um movimento não só de punição à ocupação, mas que pretende desmontar a organização de estudantes, docentes e funcionários, para a eliminação de oposição. Segundo ele, “a reitoria está cutucando onça com palito de dente”.
O terceiro possível motivo para paralisações é a Campanha Salarial que se inicia, cobrando do
Cruesp o cumprimento do acordo feito no ano passado, que destinava o excedente dos R$43,62 bilhões de arrecadação do ICMS para ajustes salariais, dentre outros, como questões de apoio estudantil.
As forças estão entrando em campo. Agora é esperar o desenrolar dos fatos para saber se a greve virá ou não.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Harmonia do Saber

texto produzido pelos jornots Aline, Heloísa, Luiza, Maria Carolina, Mariana e Túlio, para a aula de filosofia

Super Interessante - Jornots 2008
Você nem imagina, mas ouvir Beatles no iPod é pura filosofia!

Imagine sua vida sem iPod. E sem Internet. Sem celular. TV. Rádio? Seria possível, na era tecnológica avançadíssima em que vivemos, conceber um mundo sem luz?! O que, então, restaria para fazer do nosso precioso, mas interminável tempo no escurinho da noite, sem eletricidade? Não, mente poluída... Você está desacompanhado. Pense um pouco... Alguma idéia? Algo que as pessoas faziam na antiguidade (sim, muito tempo atrás) numa situação como esta, antes da invenção de toda a parafernália tecnológica de que dependemos hoje, era filosofar.

Peraí, filosofia??? Aquela mesma matéria chata que os velhos esquizofrênicos da era paleozóica inventaram para confundir a nossa vida e tornar aquelas aulas da escola simplesmente algo que dava sono? Calma... A Filosofia está muito mais presente no nosso dia-a-dia do que você poderia imaginar.

Quer ver? Você, no ônibus ou no carro, preso no trânsito, liga o seu iPod para ouvir os Beatles e passar o tempo. Nesse ato corriqueiro, sem nem perceber, você está unindo e vivendo dois dos pensamentos mais antagônicas da Filosofia Antiga: os de Heráclito e Parmênides.

Ih, já começou os nomes difíceis... Mas não se preocupe, isso tudo é mais simples do que pode parecer.

Pense no modo como você ouve música e como isso evoluiu rapidamente. Os gramofones deram espaço para os discos de vinil, que foram substituídos pela fita cassete, que, por sua vez, sucumbiu ao CD. Hoje, nem é mais necessário gravar esses intermediários... Pequenas placas para armazenar informação permitem carregar, em um pequeno aparelho, todas as músicas que o seu coração desejar. Essa mudança, fruto da interminável concorrência entre empresas e inventores, onde nada permanece inalterado, é o ponto de partida para entender Heráclito. Para esse filosofo, um dos pensadores mais antigos de quem possuímos registro, o mundo era um ‘devir eterno’, um rio que continua fluindo para sempre, nunca agora como foi antes e será depois.

Tem melhor maneira de explicar os constantes avanços tecnológicos que presenciamos diariamente?

Agora, pense na música: o ato de unir as notas e as melodias de tal maneira harmônica á formar uma canção. A combinação de instrumentos muda, o que é harmonia também, mas a música em si, desde de seus primórdios na história da humanidade, permanece. Como os Beatles que você estava escutando no ônibus, a música é... pode ser pensada, escrita, tocada. Ela é constante, eterna. Essa existência, que transcende o tempo, os modismos e a mera ilusão dos sentidos, permite a consagração da música e dos diferentes legados musicais. Essa afirmação absoluta foi primeiro descrita por Parmênides, outro filosofo antigo. Ele acreditava na essência das coisas; estas, sim, únicas e imutáveis.

Então, quer dizer que, se Heráclito acreditava que tudo vive em eterna mudança e Parmênides acreditava que há algo supremo que não pode ser alterado, um debate entre os dois terminaria em guerra? Nem tanto...

Por mais desavenças que pareçam existir entre esses dois pensadores, eles se complementam muito bem, principalmente em relação ao nosso exemplo em que voc se vê escutando Beatles no seu iPod. Basta compreender que, os heleatas, seguidores de Parmênides, se referem á forma e os heraclitinanos, seguidores de Heráclito, ao conteúdo. A música, contido em um mundo tecnológico desmistifica a idéia de que dois pensamentos opostos seriam incapazes de funcionar harmonicamente. Ao mesmo tempo em que a ideologia de consumismo atual propõe a constante renovação e o aprimoramento das formas de se reproduzir música - encarnando Heráclito –, a perpetuação de grandes artistas da música, desde os Beatles até Bethoven, através das gerações – retomando Parmênides – é um fato comprovado.

Ficou mais claro?

O mundo está em constante mutação, nossa vida muda a cada dia. Porém os pensamentos que datam de séculos antes de Cristo sobrevivem ao longo do tempo e das gerações. Sempre presentes, os mais diferentes pensamentos se entrelaçando e andando de mãos dadas. Afinal o mundo é grande e tem capacidade de acolher todos os pensamentos que lhe pedirem abrigo.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Numa plataforma de trem...

Eu achava que só veria em cenas de filmes que retratassem o século passado... mas vi, na minha frente. Eu estava dentro do trem (que já não é mais maria-fumaça e anda a 60 ou 70 km por hora ladeando a marginal) e vi pela janela um menino sentado na plataforma.
Uns doze anos, tênis, calça jeans, camiseta cinza, mochila, boné, cabelos um pouco compridos...
... um rapazinho se formando, mas nos lábios um sorriso ainda infantil....
... e nas mãos uma miniatura de um vagão de trem, exatamente igual à cópia ampliada em que eu estava sentada, observando ele observar o trem grandão e brincar distraidamente com o pequeno entre as mãos.

Então ainda existe infância num mundo de computadores e video-games...
Então um menino de doze anos ainda brinca....
Então os trens ainda fascinam as crianças... (não mais as marias-fumaças, mas o trem espanhol azul, prateado e vrmelho da CPTM ! )

Então eu me alegro!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A devida Punição

Atenção! Tema polêmico!

Queria ter escrito esse texto semanas atrás, logo que assisti a um debate no Opinião Pública da TV Cultura, sobre aborto e planejamento familiar, mas só agora arranjei tempo. Já tinha discutido e pensado muito sobre essa questão do aborto, mas só com esse debate consegui por fim clarear minhas idéias e definir minha posição.
Primeiro quero deixar bem claro: o aborto é uma coisa horrível; um procedimento perigoso se não feito com todos os devidos cuidados; doloroso, principalmente no psicológico; e que marca provavelmente para sempre quem o faz. Por isso existe uma diferença básica que deve ser entendida: ser a favor da DESCRIMINALIZAÇÃO do aborto é diferente de ser a favor do aborto.
No debate, um dos professores que se posicionava contra, se dizia defendendo os direitos do feto- a futura criança- pois desde sua concepção, assegurado pela nossa constituição, em primeiro lugar está o direito à vida. Mas é muito precário assegurar o direito de um feto de nascer, sem assegurar, porém, o seu direito de crescer e viver com dignidade. Num país como o nosso, de grande pobreza e muitos problemas, eu acredito que seja até hipocrisia uma camada da elite defender ideologicamente um direito que está só no papel sem se confrontar com a realidade. Porque problemas sociais não se resolvem apenas com idéias, mas com ações concretas. E nada melhor para pautar ações concretas do que a realidade.
Nossa realidade é a de um país onde se realizam muitos abortos na clandestinidade. Aqueles que podem pagar vão a clínicas- ilegais- mas onde o trabalho é bem feito, e pagam por isso um alto preço. Os que não dispõem desse dinheiro optam por soluções mais baratas, e que em um grande número de casos provocam complicações- não raro com a morte de mães e bebês.
Com esse panorama, uma primeira afirmação que podemos fazer é que a descriminalização do aborto traria a igualdade de direitos entre aqueles que podem e os que não podem pagar pelo procedimento hoje.

O que leva as mulheres a optarem pelo aborto, não é só a questão material, a pobreza, portanto é um erro tratar da questão focando-se somente nisso. O que leva à opção do aborto são questões muito pessoais, que variam de mulher para mulher, de seu estado, sua vida, seu psicológico.
Da mesma maneira que uma adolescente ou uma mãe que já tenha outros quatro filhos podem optar por continuar com sua gestação com felicidade, outra mulher pode não querer ter esse filho. É justo então defender a vida desse feto, que será depois uma criança que não foi desejada pela mãe; talvez se tornando manchete de jornal como bebê abandonado, jogado em rios ou represas; ou então crescendo com problemas, seja nas ruas ou dentro de casa, psicologicamente.
Pois para a maioria das mulheres, mesmo quando não é planejado, engravidar é uma benção e uma felicidade, e o amor pelo filho que está em seu corpo nasce rapidamente e é enorme. Quando, pelo contrário, uma mulher tem razões tão fortes para optar pelo aborto, contrariando a sua própria natureza de mãe, provavelmente este é o melhor caminho, tanto para ela quanto para a criança. As marcas psicológicas que um aborto deixarão nela, por si só, já são uma punição pelo seu ato. Transformar essa mulher numa criminosa comum por isso é desnecessário, e levá-la presa nas condições carcerárias que temos em nosso país é um ato quase tão violento quanto o que ela praticou ao abortar. Na verdade essas mulheres que estão em situação tão desesperadora a ponto de fazer um aborto necessitam é de paz e apoio, não de um lugar na prisão.


-> Dica: O filme romeno "4 meses, 3 semanas e 2 dias" mostra friamente como uma jovem estudante faz um aborto na clandestinidade, na Romênia comunista. Sua fragilidade e a dor por que ela passa faz pensar sobre a situação que leva uma mulher a fazer um aborto e a punição por que ela passa com o sofrimento, que é potencializado pelas condições em que o procedimento é realizado. (ah, se não tiver um estômago forte, é melhor não assistir esse filme!)