sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Respirar para emagrecer

A percepção corporal e a capacidade de unir o corpo à vida, aos sentimentos e sensações, são imprescindíveis para a perda de peso
Matéria de Revista Espaço Aberto, outubro de 2009
Por Mariana Franco

Sentar-se, tirar os sapatos, sentir os pés no chão e a respiração fluindo. Afinal de contas, em que isso poderia auxiliar no emagrecimento?

Esta pode ser a pergunta a passar pela cabeça de alguém que chega na atividade aberta do Prato. Por cerca de vinte minutos, os participantes ficam sentados em silêncio, olhos fechados, convidados a perceber cada parte de seu corpo e sua respiração. Depois trocam as experiências que tiveram durante a atividade em uma conversa.

“Lembrei-me durante a atividade da sensação que tenho ao dormir, quando a gordura me oprimia, me impedindo de respirar. É uma situação horrível. Por causa disso, sinto necessidade de emagrecer”, relatou Cristina (nome fictício), uma das participantes do grupo.

Marília Salgado, psicóloga do Prato, explica que o trabalho de estímulo à percepção corporal é importante para que se tome consciência das necessidades e alertas que o corpo nos comunica. “As pessoas muitas vezes tratam seus corpos como objetos, como máquinas que devem funcionar. Há um distanciamento entre esse corpo e a vida da pessoa, suas sensações, sentimentos, desejos. As pessoas chegam aqui e nos dão seus corpos como objetos. Elas não querem emagrecer, querem uma receita para que nós as emagreçamos, mas não é o que fazemos”, afirma a psicóloga.

Rosiane (nome fictício), que fora à reunião pela primeira vez, manifestou sua decepção com o tipo da atividade. “A gente vem e quer um resultado já, uma receita do que pode ou não comer. Quando percebe que não é assim, fica triste. Mas é preciso continuar, né?”

“Usualmente percebemos que pessoas obesas fazem coisas demais, têm necessidade de preencher todo seu tempo, e têm assim um maior distanciamento do lado afetivo-emocional de seu próprio corpo. Essas pessoas costumam ser mais racionais e se cobram muito também. Muitas vezes, exatamente por isso, elas sabem de tudo que têm de fazer para emagrecer, mas não conseguem colocar em prática” continua Marília.


Sônia (nome fictício), terapeuta natural e graduada em letras por duas vezes pela USP, relata exatamente essa disparidade entre a teoria e a prática. “Estou participando das atividades há cinco meses. Por enquanto estou aprendendo, mas nem sempre consigo colocar em prática.”

“Para emagrecer é necessária uma mudança de hábitos. Dentro dessa mudança, e necessária também um diferente modo de relacionar-se com o corpo. É um desafio dar-se um tempo para perceber-se, é uma mudança que deve ser gradual. Mas para atingir o emagrecimento, para conseguir por em prática aquilo que se sabe, a pessoa precisa ter a junção de seu corpo à sua vida, seus sentimentos, desejos, sua história”, conclui Marília.

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