sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Uma vida da academia e das artes


“Nem sei me imaginar fora da USP.”

Matéria da Revista Espaço Aberto, outubro de 2009
Por Mariana Franco

Desde pequena, Lisbeth Rebollo tinha um gosto espacial pela pesquisa. Mexia nos arquivos do pai, lia documentos e jornais de época, organizava-os. Já naquele tempo gostava de lidar com a informação ainda não sistematizada. Ela cresceu num meio privilegiado, tendo desde cedo contato com o mundo artístico. Quando chegou a hora de se decidir por uma graduação, queria a área de humanas, mas não tinha certeza quanto ao curso. Na época ainda não existiam os cursos da Escola de Comunicações e Artes.

Em dúvida entre Letras, Filosofia ou Ciências sociais, recebeu orientação de seu pai para que fosse conversar com Sérgio Milliet, crítico de arte, grande humanista e amigo da família. Lisbeth seguiu as palavras que ele então proferiu: “Se você tem dúvida, faça Ciências Sociais, porque assim terá uma formação bastante ampla no campo humanístico e em seguida poderá se direcionar para o campo com o qual tem maior afinidade”.

Assim, ingressou na USP em 1967, onde graduou-se bacharel e licenciada em Ciências Sociais. Chegando ao mestrado, apresentou a seu professor dois projetos, um sobre arte e outro sobre antropologia. O orientador não teve dúvidas: “Nem vou ler o outro para não ficar com remorso”. Faltavam, na época, pesquisas no campo da arte, e foi para o estudo da Sociologia em artes visuais que ela se direcionou.

Trabalhou, em seu mestrado, sobre a contribuição do pintor Aldo Bonadei para a arte brasileira. Graças à sua ligação com o grupo Santa Helena, Lisbeth conseguiu com a família do pintor, então recentemente falecido, toda uma documentação inédita, sobre a qual pode se debruçar.

Lidando com pintura, descobriu muito material sobre crítica de arte. Tendo desde pequena proximidade com o crítico Sérgio Milliet, quis conhecer melhor seu trabalho. Seu doutorado desenvolveu-se então sobre crítica de arte e em torno de Milliet.

Em 1983 passa a trabalhar no MAC, onde dirige a Divisão Científica, lidando com acervo e pesquisa. Não havia então carreira docente nos museus. Desejosa de dar continuidade à carreira e aos estudos, ingressa em 1987 na carreira docente, na Escola de Comunicações e Artes. Dentro da ECA, no Departamento de Comunicações e Artes, desenvolveu diversas disciplinas e linhas de pesquisa, sempre ligadas à crítica de arte e arte contemporânea. Em 1994 foi nomeada para a diretoria do MAC, função que desempenhou até 1998.

Na sua livre-docência, chegou ao campo das exposições de arte, completando com ela os assuntos já abordados em suas teses de mestrado e doutorado. Entre os anos de 1996 e 2000, desenvolve pesquisa sobre a comunicação no espaço das exposições de arte contemporânea, em parceria com uma comissão universitária francesa. Passa pequenos períodos de tempo em pesquisas na França, como que reatando a ligação com um lugar que já lhe era importante na infância.

Agora se encontra na diretoria do MAC novamente, em gestão até 2010. Quando perguntada sobre os motivos de sua ligação tão longa com a Universidade, diz ser o gosto pelo estudo e pesquisa que a mantém aqui. “Estudei e toda minha carreira profissional se desenvolveu aqui. Nem sei me imaginar fora da USP! Sempre me voltei para a vida universitária e acadêmica. A universidade é o campo por excelência para a construção desse projeto: estudo, pesquisa e divulgação para o próximo do que você consegue colher”, declara.

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