quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Você é o que você lembra!


Matéria da Revista Espaço Aberto, 6 de agosto de 2009
Por Mariana Franco

Certas coisas a gente nunca esquece, é como andar de bicicleta! Mas por que é que nunca nos esquecemos de como andar de bicicleta? A habilidade de andar de bicicleta é adquirida em um processo, um treinamento prévio: primeiro nos apoiamos nas rodinhas, aos poucos as vamos tirando, levamos alguns tombos… É uma habilidade construída a partir de experiências, e, uma vez construída, fica para sempre guardada no nosso cérebro. As habilidades de andar de bicicleta, caminhar, nadar, tocar algum instrumento, nada mais são que informações guardadas em nossa cabeça. Essas informações são as nossas memórias.

As memórias são atividades eletroneurais – sinais e circuitos elétricos – que podem ser de curta ou longa duração, armazenadas no sistema nervoso. O cérebro humano é literalmente construído desde que é concebido. Cada indivíduo passa por uma série de experiências, recebe diferentes informações. A partir dessas informações, constroem-se circuitos – as memórias.

“Todas as nossas memórias estão latentes: arquivadas em nosso cérebro, mas não acessadas. Existem os circuitos eletroneurais, mas em baixa atividade. Quando tratamos de um assunto que envolve certa memória arquivada, aquele circuito em específico aumenta e há um resgate da informação”, explica Gilberto Fernando Xavier, especialista em psicobiologia e professor associado do Instituto de Biociências (IB).

Assim como o ser humano constrói e armazena memórias, ele também atribui significados a elas. São essas memórias e os significados a elas atrelados que definem a personalidade de uma pessoa. “O ser humano interpreta o mundo que vê a partir de suas experiências. É por isso que as pessoas reagem de formas diferentes diante das mesmas situações: interpretamos o mundo a partir das nossas memórias – apenas não nos damos conta de que fazemos isso”, continua Xavier.

“Cultura, também, nada mais é que memória armazenada. Se as diferentes culturas são provenientes de diferentes experiências vividas, é possível ensinar as pessoas a conviverem sem preconceitos com as diferenças, por exemplo – é só questão de formar uma cultura de aceitação.”

Como lembra Maria Inês Nogueira, professora associada do Laboratório de Neurociências do ICB, cada ser humano é único, tem diferentes características e necessidades. Nosso cérebro, a cada minuto se modifica. “É por isso que existem, por exemplo, vários tipos de inteligência”, diz ela. “Alguns podem ser gênios das ciências exatas, outros desenvolver uma grande criatividade com artesanato e outros, ainda, a inteligência de combinar diferentes ingredientes para cozinhar divinamente.”

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