quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Uma pausa para pensar o estresse

O mau humor “normal” do nosso dia a dia corrido pode apontar problemas bem mais complexos, capazes de afetar desempenho profissional e vida pessoal. Procurar apoio é importante.
Publicado na revista Espaço Aberto, 9 Junho 2009
Por Mariana Franco

Você já teve a impressão de que quanto mais aparatos tecnológicos para abreviar o tempo e acelerar resultados você usa, menos tempo livre tem? Ou que depois de uma semana com a agenda muito lotada, a impressão é de que o tempo voou e nada aconteceu?

Essas considerações são da psicanalista Maria Rita Kehl, que, em seu recente livro O Tempo e o Cão, defende que essa aceleração geral da vida - com a globalização, a disseminação da internet, a necessidade de estarmos sempre atualizados com as mais novas tendências - é a causa de um grande mal-estar da sociedade moderna.

Dados da Organização Mundial da Saúde afirmam que 90% da população mundial sofre de estresse. Já pesquisa da Isma (International Stress Management) http://www.ismabrasil.com.br/, associação internacional voltada à pesquisa e desenvolvimento da prevenção e do tratamento do estresse no mundo, afirma que 70% dos trabalhadores brasileiros sofrem desse mal, índice que se assemelha a de países como Estados Unidos e Inglaterra. Ainda 22% dos paulistas acreditam que o estresse é o principal fator de risco para ataques cardíacos, segundo pesquisa da Datafolha, encomendada pela Sociedade Paulista de Cardiologia (Socesp).

O estresse é uma reação do nosso corpo que ocorre em qualquer situação em que uma mudança nos exige adaptação. A velocidade das mudanças hoje, entretanto, parece ser maior do que a nossa capacidade de adaptação.

No trabalho - uma das coisas a que mais dá valor a nossa sociedade - excesso de demanda e responsabilidades, grande competitividade exigida pelas empresas, excesso de autoridade por parte de superiores, ambiente de trabalho desagradável e relacionamento ruim com os colegas são fatores que podem gerar situações de estresse, prejudicando tanto a capacidade profissional de um indivíduo quanto sua vida pessoal.

A médica psiquiatra e mestranda do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC), Telma Ramos Trigo, desenvolve em seu mestrado uma pesquisa sobre a síndrome de Burnout, problema causado por prolongados níveis de estresse no trabalho. “Burnout em inglês é aquela última brasa de um papel que foi queimado, e que está prestes a apagar. É aquilo que deixa de funcionar por pura falta de energia. Metaforicamente, é aquele indivíduo que chegou ao seu limite”, explica a médica sobre o nome da síndrome.

As causas da síndrome ainda estão em estudo, mas em geral são as mesmas do estresse: fatores individuais, excesso de demanda e competitividade, e ambiente de trabalho desagradável. Já os sintomas compreendem esgotamento emocional, distancioamento das relações pessoais no ambiente de trabalho e baixa realização pessoal ou profissional. Esses sintomas, já bastante prejudiciais para o desempenho profissional, podem ainda evoluir para um quadro de depressão ou de ansiedade generalizada.

Cansaço, irritabilidade, impaciência, tensão, falta de atenção e sensação de baixa energia podem ser alertas de que alguma coisa não vai bem. Muitas pessoas, porém, não se preocupam em buscar um tratamento por considerar esses problemas justificáveis. Afinal, com esse trânsito, o trabalho, a política, a crise, como não ficar estressado?

Renério Fraguas Jr., médico coordenador do Grupo Interconsultas do IPq, explica que se entra então em um ciclo de negligências: “A pessoa não detecta como problema os sintomas que apresenta. Se detecta, não procura tratamento; e se procura, em geral não o faz até o fim. Assim o problema nunca é realmente solucionado, sempre havendo recaídas e possibilidade de agravamento, até para casos sérios de depressão”.

O importante, para os médicos, é prevenção do problema. Empresas que mantêm um ambiente de trabalho agradável, oferecem aos seus funcionários apoio psicológico e possibilidade para que se mantenha boas relações entre eles, têm, comprovadamente, melhoria na saúde de seus funcionários e em sua produtividade. Ter hábitos de vida saudáveis e praticar atividades físicas também contribuem positivamente.

Já se a prevenção não é o suficiente, e o problema aparece assim mesmo, a pessoa deve procurar se abrir com um médico. Juliana Breschigliari, do Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) do Instituto de Psicologia (IP) da USP, afirma que muitos dos pacientes a quem atende relatam sintomas psicossomáticos, como irritabilidade e falta de atenção, e demonstram temor de que eles afetem seu desempenho profissional. O tratamento desenvolvido então pelos psicólogos e alunos do IP busca as causas individuais que afligem essas pessoas, para a partir daí buscar as soluções.

Serviço
O SAP atende gratuitamente toda a comunidade USP. O telefone é (11) 3091-4172.

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