sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um longo tratamento

Não há cura para a obesidade – a solução do problema vem com mudanças permanentes no estilo de vida

Matéria da Revista Espaço Aberto, outubro de 2009
Por Mariana Franco

Diabetes. Hipertensão. Triglicéride. Colesterol. Falta de ar. Apneia noturna. Dores no corpo. Fazer exercícios físicos. Manter uma alimentação balanceada. Comer em pequenas quantidades, várias vezes ao dia. Controlar a ansiedade e os impulsos. A maioria das pessoas sabe quais problemas de saúde o excesso de peso traz, e sabe também o que se deve fazer para emagrecer. Por que então é tão difícil conseguir?

O sobrepeso e a obesidade são problemas de saúde pública mundial. A porcentagem de pessoas acima do peso na população mundial está entre 50% e 60%. É uma doença crônica, que se desenvolve ao longo dos anos.

“Nós vivemos atualmente em um ambiente no qual é mais fácil a obesidade acontecer”, afirma Anete Abdo, endocrinologista do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato) do Instituto de Psiquiatria do HC. “Temos horários de trabalho que não favorecem o exercício de uma atividade física, ocupações e lazer mais sedentários, alimentação à base de industrializados. Não há uma cura, para se tratar é necessária uma mudança permanente no estilo de vida.”

O excesso de peso traz diariamente sofrimentos à vida de uma pessoa. Além das questões de saúde, vivemos em uma sociedade em que o padrão estético do indivíduo magro é o valorizado. Privar-se de uma praia por não querer vestir uma roupa de banho ou sentir-se constrangido ao ter de passar na catraca do ônibus são exemplos de problemas constantes, que levam ao desejo de livrar-se a qualquer custo desse tipo de sofrimento. Quantos já não pensaram “se pudesse passar uma tesoura e tirar daqui uns 5kg ou 10kg, ficaria feliz”?

“Devido a esse desejo de livrar-se do problema, sempre surgirão supostos tratamentos miraculosos para resolver tudo de forma rápida e sem sofrimentos. E sempre surgirão pessoas capazes de qualquer coisa para acreditar nesses tratamentos”, afirma Egídio de Lima Dórea, médico do Ambulatório do HU. “Se fórmulas mágicas funcionassem, só teríamos pessoas magras na face da Terra”, brinca Anete.

É importante lembrar que, exatamente por muitas pessoas estarem dispostas a tudo para emagrecer, muitos “tratamentos miraculosos” falsos aparecem, inclusive apresentando-se caluniosamente como tratamentos desenvolvidos pela USP ou por outras universidades de renome. “Não se faz uma cirurgia em qualquer lugar, assim como não se trata obesidade em qualquer lugar”, lembra Dórea, “o lugar certo para tratar da obesidade é no médico”.

A obesidade é causada não por um, mas por diversos fatores. Alimentação, genética, fatores emocionais e hábitos de vida compõem um mosaico específico para cada pessoa, que igualmente deve ser tratado de forma específica. É tentando abranger todos esses fatores, e conscientizar os pacientes de que não há cura possível, mas mudança de hábitos permanente e efetiva, que trabalha o Prato.
O projeto oferece atividades que abordam questões nutricionais, físicas, psicológicas e educacionais, entre atividades abertas a qualquer pessoa e atividades fechadas somente aos participantes. “O paciente precisa conhecer-se para entender o que se passa com ele, e assim saber qual fator da obesidade tem de tratar”, afirma a endocrinologista.

Dentre as atividades fechadas, merece atenção o Grupo Família que, além do paciente, traz para o tratamento alguém de sua família. Em geral as pessoas de uma mesma família compartilham dos mesmos hábitos de vida. Não basta então tratar apenas uma pessoa, toda a família tem de se modificar.

“A obesidade aumenta também por contato social”, avisa Alexandre Menegaz, orientador de Educação Física do Prato. “Quanto mais na condição obesa você se encontra, mais você fará atividades sedentárias e mais suas companhias serão também obesas, desenvolvendo a mesma gama de atividades sedentárias”, explica. Daí a importância da ação com toda a família, e não apenas com um indivíduo.

Nos casos de obesidade infantil, o princípio de tratar a família é ainda mais importante, pois a criança adota os hábitos de vida que os pais lhe proporcionam. Devido a mudanças de hábitos e por questões de segurança, as crianças perderam também o hábito e os espaços para brincar. Só esta seria atividade física suficiente para um pequeno, mas as diversões que eles encontram hoje estão nos videogames, computadores e celulares.

"A criança obesa é alvo fácil para o bullyng, é o bode expiatório. Ela fica mais frágil, tem seu rendimento escolar alterado e acaba afastando-se do convívio social, passando mais tempo em casa, no computador e videogame. Com os pais fora de casa acaba também comendo mais alimentos industrializados”, observa Renata Pinto, orientadora de Educação Física do Prato.

Saiba como a percepção corporal pode auxiliar no emagrecimento clicando aqui.

Serviço:
As atividades são abertas a qualquer pessoa interessada. Não é necessário fazer inscrição. Durante as atividades abertas, são passadas listas de interesse para ingressar nas atividades fechadas do Prato.
Atividades físicas às segundas-feiras, das 10h30 às 11h30, no 4º andar, sala 3.
Reuniões Psicoeducacionais, dias 19/10 e 30/11, das 14h30 às 16h, no Anfiteatro Principal do 1º andar.
Reuniões de Psicodrama, dias 23/10 e 4/12, das 8h15 às 9h45, no 4º andar, sala 4.
Local: Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, dentro do complexo do HC.
Fone: (11) 3069-6974
Mais informações: http://www.hcnet.usp.br/ipq/prato/ ou prato.ipq@hcnet.usp.br

Prato – Projeto de Atendimento ao Obeso
Atividades abertas:

Ambulatório do Hospital Universitário

O funcionário ativo, aposentado, seus dependentes e moradores da região do Butantã podem participar do tratamento para obesidade do HU, que conta com palestras educacionais, acompanhamento nutricional e físico. Para participar é necessário passar primeiramente por uma consulta com clínico geral no hospital, para posterior encaminhamento.

Local: av. Prof. Lineu Prestes, 2.565, Cidade Universitária
Fone: (11) 3091-9200

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